A multiplicidade de sons que se podem encontrar dentro da cidade é quase infinita. Desde os passos apressados das pessoas que correm, ora para o trabalho, ora para o metro, ora para casa, aos motores dos carros, etc...
Mas no seio da Rotunda da Boavista há uma particularidade especial: o contraste de sons e ambientes tomam conta de quem lá passa. Quem vagueia pelo jardins da Praça Mouzinho Silveira, numa relativa paz onde se ouvem os pássaros e se sente o cheiro a relva molhada, quase não dá conta do frenesim de carros, do pára-arranca da cidade e não adivinha a confusão de barulhos e ruídos urbanos – característicos da urbe portuense – que dão a volta à rotunda.
O sentido da audição, como qualquer outro sentido, também nos transmite sensações, emoções e desperta em nós lembranças, associações mentais que fazemos quase inconscientemente. E como será relacioná-lo com a imagem? Como o podemos transmitir a partir da fotografia?
Foi esta a pergunta de partida para o exercício do fotoensaio com o tema geral: Sons da Cidade, proposto pela docente Camila Mangueira para a unidade curricular de Fotojornalismo. Todavia, esta foto-reportagem vai um pouco mais além e põe em jogo duas questões: "Que imagem nos transmite o som?" e "Que som nos transmite a imagem?".
Enquanto fotografava na rotunda, aquando da realização deste exercício, deparei-me a relacionar as imagens que passavam por mim com géneros musicais; como se a própria cidade falasse ou tocasse e quisesse transmitir alguma mensagem. “Esta luz é como uma música clássica, mesmo calma”. “Este edifício é mesmo imponente. Quase consigo ouvir o rufar dos tambores”.
E foi com este pensamento que desenvolvi o subtema deste projeto: "Sinfonia da Cidade." Tal como numa sinfonia existem diferentes andamentos – allegros e adágios – que contrastam uns com os outros, também dentro da cidade descobrimos sons destoantes. Tudo isto, representado através da perspetiva do olhar, por uma câmara fotográfica.
Ao mesmo tempo, foi também feito um exercício de diferenciação entre a representação de sons reais, aqueles que se podem ouvir, verdadeiramente, numa cidade – como por exemplo o som das obras, dos carros, das pessoas, etc,… - e a representação de sons abstratos, centrados, sobretudo, nos sons que podemos imaginar quando nos depararmos com determinada paisagem/ambiente/visão – o ruído de informação de uma montra coberta de revistas, a calma da luz do sol que desponta pelas árvores e parece trazer consigo uma orquestra clássica, os gritos de liberdade de uma estátua, etc…
Note-se que a escolha deste subtema exigiu, naturalmente, dois exercícios diferentes; numa primeira etapa foi necessário perceber os sons que se podiam captar à volta da Rotunda da Boavista, perceber os contrastes que existiam e focar a minha atenção nesta única tarefa, ao mesmo tempo que encontrava uma forma de expressar a minha audição através da fotografia. À posteriori, foi necessário olhar uma segunda vez para as fotografias que tinha tirado e perceber o que é que elas me transmitiam e com que tipo de sons, ou neste caso, música/géneros musicais, é que as poderia relacionar.
Deste modo, das várias fotografias tiradas na manhã de dia 9 de outubro de 2023 na Rotunda da Boavista foram escolhidas, para amostra final, 14 fotografias divididas em duas categorias: 9 fotografias de sons reais e 5 fotografias de sons abstratos.
"SONS REAIS"
De modo a dar coerência e uma linha de continuidade ao conceito base deste fotoensaio, a edição das fotografias foi feita no mesmo sentido. Assim, as 9 fotografias que representam “sons reais” não tiveram qualquer tipo de edição de imagem, já que tentam mostrar de forma mais crua o momento real. Já as 5 fotografias da categoria “sons abstratos”, uma vez que fazem parte de uma visão mais subjetiva, foram sujeitas a uma leve edição para destacar as sensações transmitidas pela própria imagem e pela música a si relacionada.
Para a captação das imagens foi utilizada a câmara CSC Canon EOS M50 Mark II incorporada com uma objetiva Canon EF-M15-45mm f3.5 – 6.3 IS STM
SONS ABSTRATOS
